Político, que se reinventou em tempos de pandemia para seguir o distanciamento social, conta com 74% de aprovação e pode vencer no primeiro turno.
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O presidente Marcelo Rebelo de Sousa anunciou hoje, em Lisboa, que irá concorrer à reeleição à Presidência de Portugal, em 24 de janeiro de 2021. A quatro dias de completar 72 anos, Rebelo é conhecido como o “presidente dos afetos” e se reinventou em tempos de pandemia de coronavírus para respeitar o distanciamento social, mas sem perder a popularidade.
Ao caminhar sem seguranças pelo país, Rebelo passou a organizar à distância as cenas para fotos nos telefones dos fãs. Em vez de beijos, apertos de mãos e abraços, usa os cotovelos nos cumprimentos. Mesmo sob rígidas regras de afastamento, continua “próximo” dos portugueses: ganhou 14 pontos em novembro e está com 74% de aprovação. As pesquisas preveem que vencerá no primeiro turno, com 63% dos votos.
Uma das opções era uma livraria, mas o local escolhido para formalizar a candidatura foi uma confeitaria em Lisboa, ao lado do Palácio Nacional de Belém, sede da Presidência, e para onde seguiu a pé. O local também foi palco do lançamento de sua candidatura anterior e funcionou como uma sede informal daquela campanha, quando concorreu à sucessão de António Cavaco e Silva.
— O calor dos portugueses está presente sempre — disse Rebelo, antes do anúncio, ao ser questionado se sentiria falta do calor humano na campanha.
Intelectual poliglota e professor aposentado de Direito, Rebelo prefere a língua do povo na era da pandemia. Anuncia as mais duras restrições previstas nos sucessivos estados de emergência aprovados pelo Parlamento em frases concisas, simples e objetivas, às vezes em contraste com a comunicação confusa das autoridades de Saúde.
Ex-comentarista de TV e ex-presidente do Partido Social-Democrata (PSD), de centro-direita, antes de passar a independente na primeira eleição, em 2016, Rebelo entende o imaginário português.
— Ele responde às ânsias e ambições dos portugueses, além de levar esperança. São características pessoais distintas daquelas a que estávamos habituados — disse a cientista política Patrícia Calca.
Na pandemia, Rebelo passou a visitar lojas pequenas, muito afetadas pelos efeitos das medidas restritivas, como cafés, bancas e livrarias de rua do Chiado, em Lisboa. A livraria Sá da Costa foi uma das primeiras paradas culturais pós-confinamento, em maio.
— Comprei três livros. Sou colecionador e escolhi livros antigos. Doei à Biblioteca de Celorico de Basto, pequeno município do Norte de onde vem minha família. Já há mais de 250 mil volumes — disse Rebelo a reportagem, por e-mail.
Despido de vaidade, Rebelo deu entrevistas sem camisa e à beira-mar no verão, numa programação típica de candidato. Acompanhou de perto, na água, o resgate de duas banhistas cujo caiaque havia virado e foi visto de bermudas na fila de um supermercado.
— Ele não precisa fazer campanha, mas é óbvio que já está fazendo. E gosta de falar, beijar e abraçar. Mas isso mudou — ressaltou o cientista político André Freire.
— Ele é um menino muito apaixonado, faz tudo com paixão — contou Rebelo em um evento.
Rebelo também é apaixonado pelo Brasil. Uma das suas frases correntes é: “Brasileiros em Portugal são portugueses.” Mas a primeira visita ao país, em 1975, quase acabou mal. O presidente representava a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) na inauguração do Estádio Serra Dourada, em Goiânia, em amistoso entre a seleção goiana e Portugal. Após o técnico português fazer a quarta e irregular substituição, Rebelo foi ao campo para evitar tumulto. O Brasil vivia sob ditadura militar e Rebelo lembra que o “clima ficou tenso”.
A tensão, agora, ronda o Partido Socialista (PS), do primeiro-ministro António Costa, atual secretário-geral da sigla. Os militantes estão divididos entre o apoio ao aliado e à ex-eurodeputada Ana Gomes, que fez carreira no partido, é candidata independente e tem aparecido em segundo lugar nas pesquisas. Ela criticou a demora de Rebelo em anunciar a candidatura. O terceiro é André Ventura, do Chega, de extrema direita. Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, é a quarta entre os principais candidatos.
Costa deu liberdade de voto ao PS e manteve a neutralidade, apesar de saudar Gomes e elogiar o chefe de Estado e amigo, que tem ajudado o governo no combate à pandemia ao fazer audiências com ministros e especialistas da Saúde.
Sem maioria absoluta no Parlamento como na época da Geringonça, a coalizão de partidos de esquerda que acabou em 2019, o PS conseguiu aprovar o Orçamento do Estado para 2021 porque antigos parceiros, como o Partido Comunista Português (PCP), o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) e o Pessoas-Animais-Natureza (PAN), se abstiveram. Rebelo apelou à sensibilidade dos líderes.