Brasileiros são enganados por quadrilha e ficam em situação ilegal em Portugal

Jogadores brasileiros são recrutados no Brasil com a promessa de virarem profissionais em Portugal. Depois de pagarem aos recrutadores, são enganados e acabam como imigrantes em situação ilegal no país.

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A reportagem apurou como funciona a rota que envolve os crimes de tráfico de seres humanos, auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) fez 107 operações em clubes portugueses entre 2019 e 2020. Encontrou 110 jogadores em situação irregular de residência. O órgão não revela dados pessoais, mas o blog levantou as nacionalidades junto ao Sindicato dos Jogadores, que fornece auxílio jurídico.

Nem todos os jogadores estrangeiros chegam a recorrer ao sindicato, mas, pela nossa experiência, a esmagadora maioria dos jogadores lesados provém do Brasil. Outras nacionalidades frequentes são Argentina, Colômbia, Camarões, Senegal, Nigéria e Guiné-Bissau – disse o presidente do sindicato, o advogado Joaquim Evangelista.

Dezenas de clubes são investigados, duas pessoas foram presas e outras 26 são consideradas suspeitas. Estão em curso no SEF 40 inquéritos de suspeita da prática dos crimes de auxílio à imigração ilegal e tráfico de seres humanos.

A maior parte chegou ao país com visto de turista, de curta duração e vetado para trabalho. Uma vez em solo português, os jogadores se espalharam por Faro, Castelo Branco, Viseu, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Bragança, Porto, Braga, Lisboa, Setúbal, Beja, Évora, Açores e Ilha da Madeira.

Antes de passarem pela imigração, os jogadores já pagaram aos recrutadores uma comissão, que varia, mas não é abaixo de €1 mil (R$ 6,6 mil). Chegam a Portugal iludidos e sem dinheiro. Muitas vezes, o agente some, não há contrato com o clube nem lugar para ficar.

-Somos confrontados com histórias dramáticas, jogadores que pagam na origem a recrutadores para ter uma oportunidade de jogar futebol na Europa, outros que são iludidos com a promessa de serem profissionais, acabando por encontrar condições muito diferentes das que foram prometidas. Além de se endividarem, assim como às suas famílias, ficam numa situação de grande fragilidade por entrarem de forma irregular em território nacional – revelou Evangelista.

Mas os recrutadores não agem sozinhos. Segundo o sindicato, há clubes em Portugal que funcionam como “barrigas de aluguel”. Usam o serviço de agentes ou investidores que atuam “fora do radar”, sem registro na Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

-Vários clubes destas divisões inferiores prestam-se a ser autênticas “barrigas de aluguel”, colocando-se nas mãos de agentes ou investidores que raramente dão a cara quando as coisas correm mal. Também temos registrado um aumento do número de casos de contratos de trabalho simulados e falsificação de documentos – disse Evangelista.

Jovens são envolvidos nos crimes de tráfico de seres humanos, auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos. (Foto-CWB)

O advogado detectou que os recrutadores, ou olheiros, são estrangeiros com suporte em Portugal:

-Pela nossa experiência, os recrutadores são maioritariamente da nacionalidade do jogador enganado e têm depois um parceiro de negócio em Portugal. O objetivo dos recrutadores e dos clubes que acolhem os atletas é testá-los para uma posterior transferência para um mercado europeu. É, por isso, que muitos pagam na origem por esta oportunidade – explicou Evangelista.

Dezenas de jogadores brasileiros têm representação do departamento jurídico do sindicato em processos trabalhistas e criminais instaurados. Após contactar a embaixada, o órgão auxilia no repatriamento.

-Não criamos ilusões nem usamos a solidariedade para fazer negócio. Garantimos a estadia e alimentação e suportamos o voo de regresso, em segurança, articulando depois com o sindicato do país de origem os apoios à chegada. O nosso departamento jurídico fica, como referido, mandatado para seguir com as diligências criminais e disciplinares, na tentativa de obter o ressarcimento dos danos que foram causados ao jogador – contou Evangelista.

O sindicato ressaltou que “alguns jogadores têm tido a coragem de falar publicamente da sua situação, mas não é fácil e, normalmente, isso acontece pouco antes de regressarem ao país de origem.”

Estrangeiro que entre ou permaneça ilegalmente em Portugal é notificado pelo SEF para abandonar voluntariamente o país no prazo de 10 a 20 dias.

O clube ou empresa que utilizar estrangeiro sem visto de residência ou de trabalho está sujeito a multas de €2 mil a €90 mil.

Capital Portugal com Helton Arruda

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