“#Migramithys” é o nome do projeto lançado há cerca de um mês pela Casa do Brasil de Lisboa, associação sem fins lucrativos que se dedica à integração dos migrantes de todas as nacionalidades que chegam a Portugal. A iniciativa é financiada pelo Programa de Apoio ao Associativismo Imigrante, que é gerido pelo Alto Comissariado para as Migrações. A ideia é combater fake news, mitos e estereótipos relacionados à imigração.
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Em Lisboa
Segundo Ana Paula Costa, que faz parte da direção da Casa do Brasil de Lisboa e é uma das responsáveis pelo projeto, “o estereótipo da mulher brasileira aqui em Portugal está muito vinculado e construído a partir da sexualização do corpo da mulher”. Ela também ressalta que esse estereótipo está associado “a impressões e ainda a rótulos baseados na colonização e na imagem que o Brasil exportou da mulher brasileira aqui em Portugal”.
“É muito importante a gente também falar de como os estereótipos contribuem para a construção dessas fake news, que são disseminadas no contexto das redes sociais e da internet de forma geral”, sublinha a capixaba Ana Paula, que mora há quase quatro anos em terras lusas e faz doutorado em Ciência Política na Universidade Nova de Lisboa.
Campanha nas redes sociais
A primeira etapa do #Migramyths consiste numa campanha de sensibilização nas redes sociais, usando evidências e informações de fontes confiáveis no combate às fake news, aos mitos e estereótipos relacionados à imigração. Para isso, este mês, o projeto vai intensificar o emprego de um material diverso: cartazes, vídeos, depoimentos de imigrantes, contribuições positivas da imigração e divulgação de histórias de vida das pessoas imigrantes em Portugal.
“Tudo vai ser disseminado online a partir do Instagram e do Facebook do Migramith.É importante que nos apropriemos dessas redes para podermos propagar informações que são verdadeiras, que são reais”, destaca Ana Paula Costa.
Tertúlias
Até outubro, a Casa do Brasil de Lisboa dará início à segunda etapa do projeto, por meio de um ciclo de tertúlias – reuniões que, dependendo da situação da pandemia de Covid – 19, poderão ser presenciais ou virtuais. O propósito é debater os assuntos relacionados à imigração, inclusive com a divulgação de estudos, trabalhos acadêmicos e pesquisas científicas.
“E temos expectativa que o projeto, sim, contribua para que as pessoas migrantes possam ter igualdade de oportunidades, possam conseguir se estabelecer de forma digna e não passar por nenhum tipo de preconceito, de xenofobia”, salienta Costa.
Contribuições positivas da imigração
Para João Peixoto, professor catedrático no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa e investigador no Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações da mesma instituição, “há muitas populações europeias receosas da imigração, que admitem que há demasiados estrangeiros na Europa, e há outras mais receptivas”.
“Eu acho que o fato de vivermos numa situação de grande incerteza, de crises econômicas, agora de pandemia ajuda a explicar a divisão”, avalia.
O professor João Peixoto tem se dedicado aos estudos das migrações internacionais – uma das suas principais áreas de investigação. Ele explica que, ao avaliar as diferentes dimensões da imigração estrangeira para Portugal e, em particular, da brasileira, encontra contribuições positivas.
“Estamos certamente a falar de alguma coisa que tem resolvido problemas, tem contribuído para a modernização da economia e da sociedade portuguesa, tem contribuído também para o rejuvenescimento da população portuguesa, que está muito envelhecida. A imigração tem tido um contributo claramente positivo para a sociedade e para a economia portuguesa”.
De acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, há 590.348 imigrantes vivendo legalmente em Portugal. Os brasileiros representam quase 25,6% desse número. Ou seja, pouco mais de 150 mil.