Sem ar-condicionado em Portugal, brasileiros sofrem com calor de mais de 40 graus

Por Gian Amato.

Sábado os termômetros chegaram a 44°, no dia mais quente desde o início das medições.

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Portugueses e turistas se refrescam no Rio Tejo, na lisboeta Ribeira das Naus Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

Os cariocas de classe média e média alta que vivem em Cascais, na grande Lisboa, dizem estar aliviados por trocarem a violência, a corrupção e o caos urbano e político do Brasil por um paraíso a 40 minutos de trem da capital portuguesa. Só não conseguiram escapar da onda de calor, que causa incêndios devastadores na região do Algarve e provoca uma sensação térmica semelhante à do Rio de Janeiro nos dias mais quentes do verão na cidade litorânea conhecida como Riviera Portuguesa.

Houve apagão em Cascais na sexta-feira e faltaram ventiladores e aparelhos de ar-condicionado no sábado, quando termômetros marcaram 44 graus — foi o dia mais quente em Lisboa desde que começaram as medições.

Alessandro, a família e o amigo Matheus: busca em lojas foi sofrida para achar um ar-condicionado Foto: Gian Amato

Sábado seria um dia normal em Cascais, com passeios de bicicleta da Casa da Guia até a Praia da Azarujinha, que, pela semelhança com a Joatinga, na Barra da Tijuca, ganhou o apelido de Joatuga. Mas entre um mergulho e outro, havia algo estranho no ar. Era o bafo quente semelhante ao do verão carioca, que fez o empresário Alessandro Martins tentar comprar um ar-condicionado ou ventilador. Não havia nenhum nas lojas de grandes redes de supermercados como o Jumbo.

— Primeiro, procurei na internet e o estoque estava zerado. Fui ao supermercado e não havia mais nada. Tivemos que dormir todos, eu, minha mulher, Roberta, e as minhas duas filhas, Manuela e Rafaela, no mesmo quarto. Foi o maior perrengue — disse Martins.

A maioria dos apartamentos de Lisboa e Cascais, e também do Porto, não tem aparelhos instalados. Com a onda de calor repentina, quem não tinha ar correu ao maior supermercado da região. O estoque não suportou a demanda. Só na terça-feira o empresário conseguiu comprar um ar, com o estoque reposto, por € 319. Ainda havia alguns no depósito do Jumbo.

Mulher combate calor em Lisboa com água em fonte pública Foto: RAFAEL MARCHANTE / REUTERS

No último sábado, morreram 310 pessoas no geral em Portugal, 40 a mais que no sábado anterior — um aumento que pode estar ligado às altas temperaturas. Foi o dia do verão com mais mortes.

— Eu acho engraçado os brasileiros querendo os aparelhos de ar e ventoinhas (ventiladores). Achava que estariam acostumados com o calor. Mas vendi tantos no sábado que nem lembro — disse Rui Pereira, vendedor do Jumbo.

Principal ponto turístico do litoral da Grande Lisboa, Cascais é a terceira cidade do ranking nacional desenvolvido pela Bloom Consultoria para medir a qualidade de vida, negócios e turismo, ficando atrás apenas de Lisboa e Porto, as maiores cidades.

Chamas descontroladas. Incêndio destrói e árvores e ameaça casas em Monchique, no Algarve: calor seco preocupa Foto: CARLOS COSTA / AFP

A pressão do turismo, no entanto, atrai muitos visitantes, o que pode ter comprometido a rede de energia.

— Eu estou aqui há três anos e jamais havia visto um apagão. Foi o calor, o alto consumo de energia. Meu irmão também não encontrou aparelhos para aliviar o calor — disse o brasileiro Ivan Linhares, consultor imobiliário.

Nos transportes públicos, o calor tem causado transtornos. A empresa Comboios de Portugal limitou a venda de bilhetes em parte das linhas para evitar que os passageiros passem sufoco, porque o ar-condicionado não tem dado vazão em algumas composições.

No Sul do país, no Algarve, o fantasma dos incêndios ainda assusta e faz o país relembrar o caos do ano passado, quando 114 pessoas morreram. Na Serra de Monchique, o incêndio que ficou intenso no último fim de semana ainda está incontrolável — devastou mais de 15 mil hectares — e se alastrou para cidades próximas, como Silves e Portimão. Foram mais de 30 feridos até ontem. Com mais de mil bombeiros mobilizados, mais de 250 pessoas tiveram que ser retiradas das aldeias próximas.


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