Por Gian Amato.
Para especialização, país exige fazer nova residência, processo que leva até cinco anos.
Profissionais liberais também surfam a nova onda de imigração do Brasil para Portugal, que é mais qualificada. Para se ter uma ideia, dentre os 85 mil brasileiros que se mudaram para o país, segundo dados de 2017, 22 mil são universitários. Mesmo em áreas como a medicina, há oportunidades para quem chega. No mercado português já há 600 médicos brasileiros, número que deve subir nos próximos anos.
Nesse setor, o caminho para conseguir um emprego é mais longo. Médicos brasileiros devem pedir validação de diploma para atuar, de início, como clínicos gerais. Para alcançar a especialização, é preciso fazer uma nova residência médica, em processo que pode levar até cinco anos.
A demanda na área, entretanto, é tanta que psiquiatra brasileira Ofélia Maia, que vive em Portugal desde 2003 e trabalha no Grupo Trofa Saúde Portugal, ingressou no time de consultores da Atlantic Bridge, empresa fundada especialmente para orientar a imigração de profissionais brasileiros qualificados.
De cada 250 clientes que procuram os serviços da empresa, 65 são médicos. A previsão da Ordem dos Médicos é que o número de 57 pedidos de inscrições de 2017 seja superado este ano.
Mas até conseguir a inscrição na ordem, a solicitação de autonomia e o reconhecimento de especialidade, o médico brasileiro tem que ter paciência e cumprir todos os passos obrigatórios para o exercício da medicina em Portugal. Uma validação do diploma de especialidade, quando não é rejeitada, pode levar anos. A equivalência do diploma e a inscrição na ordem, ao todo, podem levar mais de um ano, além de outros seis meses para a certificação em uma universidade portuguesa. Ao todo, o processo custa quase € 1 mil.
— Para ter o cartão da Ordem dos Médicos, o primeiro passo é reconhecer por equivalência o diploma de médico brasileiro em uma universidade portuguesa. Após as provas, o médico sairá habilitado a exercer a clínica geral como licenciado, um primeiro título, que dá o direto de ir trabalhar como “tarefeiro”, na urgência e etc. Mas para pleitear uma especialidade, tem que passar por outro funil, porque as especializações são diferentes, e fazer a residência outra vez, que pode levar até cinco anos. É começar uma nova vida — explicou Ofélia.
SALÁRIO MENOR
Mesmo assim, médicos mais experientes têm trocado o Brasil por Portugal, abandonando suas especialidades para recomeçar na clínica geral. E a motivação não é financeira. No Brasil, os vencimentos de um médico podem superar os € 6,5 mil (mais de R$ 30 mil), enquanto em Portugal um especialista com experiência recebe € 4 mil (R$ 17,62 mil).
— O salário básico no setor público fica entre € 2 mil e € 2,3 mil. O médico pode assinar um contrato de seis meses, renovável por mais seis, podendo entrar definitivamente no serviço se houver concurso. No Brasil, o médico ganha quatro vezes mais, mas tem que trabalhar mais se quiser ter um padrão de vida elevado. Padrão que ele pode obter em Portugal com menos dinheiro — disse Ofélia.
Então, por qual motivo parte dos médicos brasileiros quer imigrar?
— A grande maioria é da classe abastada, que não precisava sair por motivos econômicos, mas são eles que saem porque temem o futuro, a instabilidade. O Brasil poderá demorar a se reerguer e os mais corajosos e desapegados fazem esta mudança, prevendo problemas futuros. O movimento é este: eles têm medo do futuro e não sabem como criarão os filhos no Brasil, que está sem perspectiva — garantiu a psiquiatra.
Afora o Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal, os médicos com registro da ordem têm condições de trabalhar na iniciativa privada.
— Mas é diferente, porque é um trabalho autônomo (recibos verdes), como prestador de serviço, remunerado de acordo com o trabalho desempenhado em determinado mês. Dá para fazer muito dinheiro assim — afirmou ela.
Outro fator que aumenta a chance de colocação é o geográfico. No interior, há falta de médicos, que preferem as regiões de Lisboa e Porto.
— Mas, para isto, terá que se habituar a morar longe de um grande centro urbano, o que para os brasileiros não é fácil — alertou a médica.
Para o presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, Miguel Guimarães, não há problemas na adaptação. No entanto, o funil da especialização poderá ser um obstáculo para os profissionais que chegam ao país.
— Em termos de língua e de adaptação não existem propriamente barreiras. Em termos de formação especializada já se pode falar em maiores dificuldades, já que o Serviço Nacional de Saúde não está a ter capacidade de receber todos os internos de especialidade — disse Guimarães.
PASSO A PASSO:
1 – Processo de Equivalência de Diploma Médico . Solicita que a licenciatura/mestrado em Medicina brasileiro seja atestado em universidade de Portugal. Etapa com entrega de documentos e provas teórica, prática e pública perante júri. As demais etapas dependem da aprovação.
2 – Inscrição na Ordem dos Médicos e Reconhecimento da Autonomia para o Exercício da Medicina.
https://ordemdosmedicos.pt/regulamento-de-inscricao-na-ordem-dos-medicos/
3 – Processo de Reconhecimento de Especialidade Médica.