País reverte medidas de relaxamento e foca nas restrições aos jovens para conter nova propagação do novo coronavírus.
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Os portugueses relutaram a sair da quarentena como se pressentissem que o bom desempenho do país durante a pandemia pudesse sair do controle. Foi o que aconteceu. No período entre 21 de maio e 21 de junho, o país registrou 9.200 novos casos.
O governo se viu obrigado a recuar e antecipar o horário de fechamento de lojas para as 20h, proibir a venda de bebidas alcoólicas a partir desse horário e a limitar as reuniões ao máximo de dez pessoas, metade do que estava permitido.
Os jovens são o principal alvo das novas restrições. Festas clandestinas disseminaram novos focos de infecção. No Algarve, uma comemoração para cem pessoas contaminou 76; em Grândola, nos arredores de Lisboa, pelo menos 20 adolescentes adoeceram num acampamento. A onda de calor encheu praias e parques.
Pela primeira vez, o Porto e cidades do Norte do país cancelaram os tradicionais festejos de São João: não houve música, queima de fogos de artifício, barraquinhas de comida e bebida — tudo que remetesse à aglomeração de pessoas.
Modelo exemplar pela organização e pelas medidas eficazes verificadas enquanto os vizinhos eram atingidos em cheio pelo novo coronavírus, Portugal registrou 40 mil infectados pela Covid-19 e 1.543 mortos. Agora, a taxa de contágio só é superada na Europa pela Suécia, que passou ao largo do distanciamento social.
O crescimento de casos na pós-pandemia fez com que o panorama se invertesse: os bons alunos do continente são esnobados. Alguns países europeus, como o Reino Unido e Áustria, estudam se os passageiros procedentes de Portugal devem ser considerados seguros e, por isso, escapar da quarentena obrigatória de 14 dias. Finlândia e Dinamarca, por sua vez, já excluíram os portugueses da lista dos que estão isentos das restrições.
A região da Grande Lisboa e Vale do Tejo é a mais afetada pelo ressurgimento da doença e concentra 80% do pico recente — 367 novos casos nesta quarta-feira em todo o país. Fernando Maltez, diretor de Infectologia do Hospital Cury Cabral, considera que a situação está descontrolada, mas pode ser revertida.
“O desconfinamento poderia ter sido feito de forma mais lenta”, analisou à Rádio Renascença.
O presidente Marcelo Rebelo Sousa apela para que os portugueses sejam rigorosos no uso das máscaras em locais públicos e afasta o cenário de descontrole e ruptura no sistema hospitalar. Mas o certo é que Portugal mostrou que ainda está longe livrar-se da Covid-19.