A Lisboa dos escritores e de todos os artistas…

Por José Eduardo Agualusa.

‘Lisboa tem ao mesmo tempo uma forte ligação com o passado, como Roma, mas já está no futuro, como Berlim. E além disso há o sol’.

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Imagem ilustração. (© Lusa)

Lisboa está na moda. Não atrai apenas turistas, mas também novos moradores, alguns dos quais artistas e criadores culturais com amplo reconhecimento internacional. Não, não vou falar da Madonna, que fixou residência no mais literário dos palacetes portugueses, o Ramalhete, d’ “Os Maias”, de Eça de Queirós (o meu livro preferido). Também não vou falar da Mónica Bellucci, de Éric Cantona ou da Scarlett Johansson. São pessoas que, embora vivendo em Lisboa, habitam mundos muito distantes do meu.

Interessam-me sobretudo os escritores. Um dos que escolheu Lisboa para viver, o espanhol António Muñoz Molina, caminha todos os dias sobre a minha cabeça, ou seja, no apartamento acima do meu. Molina, que em 2013 ganhou o mais prestigiado prémio literário espanhol, o Prémio Príncipe de Astúrias, publicou em 2014 um romance que tem Lisboa como palco: “Como a sombra que passa”, sobre a passagem pela capital portuguesa do assassino de Martin Luther King, logo após ter cometido o crime.

Outra escritora que se mudou para um apartamento próximo ao meu foi Taiye Selasi. Filha de uma pediatra nigeriana e de um cirurgião ganês, mais conhecido enquanto poeta, Taiye nasceu em Londres, estudou nos EUA e viveu em Roma e em Berlim antes de se mudar para Portugal. Costuma ser apresentada ora como escritora americana, ora como britânica, ora ainda como nigeriana e / ou ganesa. O seu primeiro e até agora único romance, “Ghana must go!”, publicado em 2013, foi rapidamente traduzido para mais de 25 idiomas, recebendo rasgados elogios da generalidade da crítica. Estranhamente, nunca foi publicado no Brasil.

A nacionalidade de um escritor afirma-se naquilo que ele escreve — não está nas páginas de um passaporte. Sendo assim, parece-me mais justo apresentar Taiye como uma escritora africana, ou afropolitana, para utilizar um termo que ela própria ajudou a definir e divulgar. Um bom termo, aliás, pois junta o conceito de panafricanismo dos anos 1950, com o de cosmopolitismo. Um afropolitano é um africano sem fronteiras, que se sente tão à vontade nos salões literários de Nova Iorque quanto num shebeen (bar informal) sul-africano. Taiye veste bem o conceito — linda, alta, elegantíssima, fala fluentemente meia dúzia de idiomas, enquanto viaja pelo mundo para dar aulas de escrita criativa ou para discursar sobre identidade e localismo, outro conceito que vem desenvolvendo: basicamente, a ideia de que estamos ligados a um arquipélago de lugares dispersos pelo mundo, não a países. Cada vez mais, os cidadãos do século XXI possuem identidades transnacionais.

Na passada terça-feira fui jantar a casa de Taiye. Os restantes convidados constituíam o espelho perfeito daquilo em que se transformou a cidade: americanos, alemães, portugueses, africanos e pessoas com múltiplas identidades; escritores, músicos, gente ligada ao cinema e às novas tecnologias de informação. “Interessei-me por Lisboa quando percebi que a cidade era uma mistura entre Berlim e Roma.” — Disse-me Taiye. — “Lisboa tem ao mesmo tempo uma forte ligação com o passado, como Roma, mas já está no futuro, como Berlim. E além disso há o sol.”

E os escritores — acrescento eu. Ajudando a reinventar a cidade.

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