Dispara número de estudantes brasileiros em Portugal: já são mais de 12 mil

Por Gian Amato.

Oportunidades acadêmicas aumentam, assim como pedidos de visto estudantil.

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Estudantes conversam diante da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa: procura de brasileiros por instituições de ensino superior em Portugal, onde muitas aceitam o Enem, deu salto nos últimos anos Foto: Rafael Marchante / Reuters/2-10-2016

A carioca Giulia Alves, de 19 anos, sempre sonhou em estudar em Portugal . O que ela não sabia é que a sua viagem começaria na Cidade da Música, no Rio, onde recebeu, em uma feira para promover o ensino das universidades portuguesas, em maio, um panfleto sobre estudar de graça durante o verão no Algarve. Foi a passagem dela para Faro, onde cursa o Summer Campus da Universidade do Algarve (UAlg), um programa criado especialmente para captar estudantes brasileiros. Giulia é mais uma num êxodo que transformou os brasileiros em maioria entre os alunos estrangeiros em universidades portuguesas nos últimos anos. Dos 1.907 em 2005, agora já são cerca de 12.245, uma aumento de 540%.

— Foi ótimo poder conhecer tudo de graça. Uma chance rara. Moro entre a Barra e Jacarepaguá e achei Faro muito semelhante, com um clima legal. É uma cidade universitária, com muitos jovens, praia, bares e uma vida “pop”. Eu viveria e estudaria aqui, com certeza — disse Giulia.

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Dados do ano letivo de 2016/2017

De 2014 até este ano, aumentou de 240 para 700 o número de brasileiros matriculados na UAlg. E a tendência é que a instituição ganhe algumas posições no ranking de preferências de brasileiros este ano.

— Eu queria ver como é. Agora que já sei, vou tentar cursar Relações Internacionais aqui. Se não conseguir direto, vou pedir intercâmbio pela universidade que entrar no Brasil ou fazer mestrado e doutorado na UAlg. Só teria que dividir a moradia, para ficar mais em conta. Ainda assim, é mais barato que no Brasil — planeja Giulia.

Agora maioria entre universitários expatriados em Portugal, os brasileiros pagam um preço por isto. Ainda que sejam mais baratas que no Brasil, as mensalidades das universidades são mais caras para quem não é da União Europeia (UE). Além disso, a especulação imobiliária, causada em parte pelo aumento da demanda educacional, elevou o preço dos aluguéis e até mesmo dos quartos, que podem custar mais de € 700 no Porto, Lisboa e Faro no início do ano letivo, no segundo semestre.

No ano acadêmico de 2005-2006, 1.907 brasileiros cursavam o ensino superior em Portugal. Uma década depois, o número saltou para 12.245 alunos, uma variação de mais de 540%. Dados e estudos oficiais das instituições de pesquisas portuguesas comprovaram que o aumento da imigração de alunos brasileiros é uma tendência sem fim estabelecido, impulsionada pela concessão de bolsas, crescimento do número de imigrantes, que formam a maior colônia (85.426), e, recentemente, pelo acesso a 34 universidades através da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A carioca Giulia Alves, de 19 anos, cursa o Summer Campus da Universidade do Algarve (UAlg) Foto: Acervo pessoal

No primeiro semestre de 2017, a procura por vistos de estudante no Consulado de Portugal em São Paulo aumentou 148% em relação ao mesmo período de 2016. Ao todo, entraram 42.564 estudantes estrangeiros em Portugal em 2016-2017, 12% a mais que no último ano acadêmico.

Estudantes de fora dominam aluguéis

A disputa pelos alunos é grande e por isso há programas como o Summer Campus, da UAlg. Já as universidades do Porto e de Lisboa anunciaram como atrativos mais investimentos para a expansão de alojamentos e residências num momento em que praticamente não há mais apartamentos e quartos baratos para alugar nas duas maiores cidades.

— Através deste curso, a UAlg mostrou aquilo que faz ao público alvo que considera mais importante. Conseguimos mostrar a eles o que podem ter em seu futuro como estudante aqui no Algarve. Nosso objetivo é ter um maior número de brasileiros — disse o reitor da UAlg, Paulo Águas.

O relatório deste ano do Uniplaces revelou que os universitários estrangeiros foram responsáveis por 82% das reservas de aluguéis de imóveis na plataforma online voltada para alunos, sendo 15% brasileiros. Nos últimos dias, era possível alugar através do site um apartamento de um quarto no bem localizado bairro de Santo Ildefonso, no Porto, por € 1 mil. Apenas a vaga num quarto estava entre € 250 e € 500. Em Lisboa, um apartamento de um quarto perto do Castelo de São Jorge ou próximo à estação de Santa Apolônia era anunciado por € 1 mil. A situação é um pouco melhor em certas cidades do Algarve, onde apartamentos de um quarto podem custar a partir de € 600. Mas os preços aumentam quando o ano letivo está para começar.

— O mercado imobiliário de Portugal inflacionou, ainda mais com questão do Enem e com a vinda maior de brasileiros. O pessoal que morava aqui antes disse que os preços nunca foram tão altos como quando começou a valer o Enem, em 2017, justo quando cheguei. Eu demorei para conseguir alugar um apartamento, foi difícil, estava bem caro — contou a jornalista Raphaela Curty, que faz mestrado de Marketing Turístico na UAlg e vive em Faro.

Estudantes participam de curso no Summer Campus da Universidade do Algarve Foto: Divulgação/UAlg

Universidades públicas também cobram

Com cidadania portuguesa, ela paga um pouco menos que os sem passaporte europeu. Um curso de mestrado de € 4 mil para um brasileiro na UAlg sai a € 3 mil para portugueses e europeus, divididos em parcelas ao longo de dois anos. Porém, há descontos para os mais bem classificados no Enem, que podem pagar até € 1,1 mil.

Mesmo públicas, as universidades cobram pelos cursos, que podem custar até € 7 mil num mestrado em Coimbra, por exemplo, onde estuda a maioria dos brasileiros. Para o ano letivo de 2017-2018, na Universidade de Lisboa, os valores vão de € 3 mil a € 7 mil. Os preços partem de € 3 mil e chegam a € 8,5 mil na Universidade do Porto, onde pode ser aplicado 50% de desconto a estudantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Reitoria da Universidade do Porto Foto: Egídio Santos / porto.pt

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