Lisboa, a nova capital cultural do Brasil ???

No passado dia 5 de julho, enquanto Caetano Veloso conversava com Jean Wyllys sobre a turbulenta realidade brasileira, na abertura da Casa Ninja de Lisboa, Madonna juntava um grupo de mulheres batucadeiras cabo-verdianas para festejar o aniversário dos 44 anos da independência do arquipélago crioulo. Ao mesmo tempo, o governo de Cabo Verde inaugurava na capital portuguesa um Centro Cultural, tornando-se o primeiro país africano a lançar uma instituição do gênero na Europa. Nessa mesma noite assisti no tradicionalíssimo Coliseu dos Recreios a uma edição especial da Rua das Pretas, projeto do cantor e compositor carioca Pierre Aderne, que todos os sábados reúne, num belíssimo palacete do Jardim do Príncipe Real, músicos portugueses, africanos e brasileiros, entre jovens descobertas e nomes consagrados, num encontro em que o público partilha com os cantores alguns dos melhores vinhos portugueses. Inútil dizer que os finais destes shows são sempre bastante animados.

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Clima agradável, qualidade de vida e facilidade da língua empolgam nova leva de imigrantes brasileiros. (Foto-Globo)

Além de Caetano & Filhos passaram também por Lisboa, nos últimos dias, a cineasta Petra Costa, que mostrou o seu excelente documentário sobre a defenestração de Dilma Rousseff; a poeta, atriz e cantora Elisa Lucinda (num show divertidíssimo); a baiana Luedji Luna e ainda os Coladera, banda mineira com um som de forte matriz cabo-verdiana.

A coincidência de acontecimentos narrados acima, testemunha, por um lado, a formidável vitalidade de Lisboa e, por outro, a crescente afirmação da cidade como capital cultural da lusofonia.

Sempre que um qualquer país entra em crise, algum outro acaba lucrando com isso. No caso da atual instabilidade política, econômica e social que aflige o Brasil, e, em menor grau, Angola e Moçambique, quem vem lucrando é Portugal e, em particular, Lisboa. A capital portuguesa sai beneficiada ao atrair artistas e intelectuais brasileiros e africanos, os quais terminam, quase sempre, por trabalhar uns com os outros e com os criadores locais.

Em consequência, Lisboa vem-se transformando numa grande oficina de pensamento e de criação artística. A renovação da música urbana lisboeta (mas também da literatura e das artes plásticas) é consequência direta de tal movimento.

A cidade respira um perfume de insurgência. De um lado há uma juventude ansiosa e criativa, que aproveita o momento para discutir e repensar os fundamentos da sua própria identidade. Do outro emergem pequenos grupos conservadores, que olham com certa perplexidade e apreensão para o crescimento das comunidades afro-descendente e brasileira.

Duas das pessoas que melhor conhecem todo este riquíssimo processo, porque se originaram dele, estão por estes dias em Paraty, a convite da Flip: o músico e escritor angolano Kalaf Epalanga, e Grada Kilomba, escritora e artista portuguesa de origem angolana. Ouvi-los pode ser uma boa oportunidade para quem queira espreitar o futuro. Porque eles estão vindo do futuro. De um futuro no qual todas as fronteiras foram abolidas — políticas, culturais, de raça ou de gênero — e onde a crioulidade se afirma triunfante.

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