Portugal bate EUA e se torna favorito dos brasileiros que querem trabalhar no exterior

Segundo levantamento da consultoria BCG, Canadá e Angola também desbancaram país norte-americano.

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Portugal, Canadá e Angola são os três destinos preferidos dos brasileiros para trabalhar fora, de acordo com o levantamento global da consultoria BCG (Boston Consulting Group).

O ranking, feito desde 2014, sempre contava com liderança dos Estados Unidos –desbancado pelo Canadá a nível global pela primeira vez em 2020.

Os dados são da terceira edição do “Decoding Global Talent 2020”, que teve participação de 209 mil pessoas de 190 países. As edições anteriores se referem aos anos de 2014 e 2018.

Em ambas, o Canadá ficou em terceiro lugar, atrás de EUA, em primeiro, e Alemanha e Reino Unido, segundos colocados em 2018 e 2014, respectivamente.

O desejo de mudar de país para trabalhar, porém, está em queda: em 2020, 50% manisfestaram essa vontade, ante 57% em 2018 e 64% em 2014.

Já o ímpeto de trabalhar para empresas estrangeiras sem sair do país de origem chegou a 57% em 2020. Para essa modalidade, os EUA continuam no topo como origem preferida da companhia, seguidos pela Austrália e pelo Canadá.

Para Manuel Luiz, porta-voz do BCG Brasil, a preferência pelo Canadá pode ser explicada, em parte, pelo aumento das restrições migratórias nos Estados Unidos durante o governo Trump. Ele acredita que o mesmo pode ser dito sobre o Reino Unido, que mudou as políticas migratórias com o brexit.

A pandemia também é um fator que, para Luiz, causa impacto. Países com boas gestões da pandemia, como a Nova Zelândia, entram no top 10 de preferência para carreira pela primeira vez na série histórica.

Além de ganhar importância na hora de profissionais pensarem em um país de destino, a pandemia –principalmente a má gestão dela– age também como potencializador da vontade de sair do país de origem.

É o caso de Stephany, 25, formada em desenvolvimento de sistemas, que está prestando processos seletivos para trabalhar no Canadá. Ela se inscreveu em plataformas de recrutamento de desenvolvedores, como a VanHack, que direcionam para vagas no exterior.

“Tem uma demanda grande no mundo por profissionais de tecnologia da informação, além de ter no Brasil”, afirma. No Canadá, a demanda é tão grande que existe um incentivo grande para a entrada de profissionais de outros países.

“Eles são muito abertos para imigrantes”, diz Stephany. Ela conta que a vontade de trabalhar fora do país passa pela busca de lugares que lidem bem com a diversidade.

O plano é conseguir uma vaga em Vancouver, para ela ou para o namorado, que também trabalha com tecnologia, antes de mudar para fora, mas ela não descarta a possibilidade de se mudar sem trabalho. “Sabendo que nossa área de expertise tem oportunidades lá fora, vemos como uma alternativa”, diz.

Para Daniel Braun, CEO da empresa de imigração Cebrusa Northgate, especializada em levar brasileiros ao Canadá, o país é visto como destino final por conta da alta qualidade de vida. “Uma pessoa que vai para o Canadá não está pensando em se aventurar –é pensando no futuro, na família”, conta.

Braun afirma que, além das 300 áreas de formação com demanda por imigrantes –como tecnologia, usinagem, enfermagem, saúde, psicologia–, o Canadá conta com cerca de 60 programas diferentes de migração, dentre os quais projetos que oferecem bolsas para aprendizagem de idioma –inglês ou francês.

Existe, ainda, a possibilidade sondada por Stephany –de migrar sem um trabalho e, já no país, buscar uma oportunidade. É o caso do desenvolvedor Eric Malachias, 28, que se mudou para Toronto em janeiro de 2018.

Ele tinha vontade de morar fora desde a adolescência, mas acabou cursando faculdade e iniciando a vida profissional no Brasil mesmo. Após conversas com uma colega de trabalho que havia morado no exterior, ele decidiu começar a procurar oportunidades.

Eric filtrou o país por idioma –ele preferiu os anglófonos e lusófonos– e clima –tinha preferência por temperaturas mais frias. Acabou ficando com opções como Reino Unido, Austrália, Estados Unidos e Canadá.

Ele chegou a fazer uma entrevista para um emprego no Canadá antes de sair do Brasil, mas não deu certo. Diante da negativa, ele buscou outras formas de emigrar e conheceu o processo de “entrada expressa”.

“É feito um sistema de pontos de acordo com experiência profissional, nível de educação e teste de inglês. Você ganha essa pontuação e entra numa lista de espera e eles vão chamando o topo da lista para virar residente permanente”, diz.

Três meses depois da inscrição ele recebeu um email oficializando a residência. “Pedi as contas no trabalho e vim para cá [Canadá], sem emprego”, conta.

Como plano B, Eric se inscreveu em redes de trabalhos freelance. Na prática, ele nem precisou recorrer a isso. Após um primeiro mês reservado para se aclimatar na nova cidade, ele se inscreveu em vários processos seletivos e, duas semanas depois, já tinha duas ofertas.

“Hoje, no Brasil, falta emprego. No Canadá, falta empregado”, conta Braun, da Cebrusa Northgate. “Lá, a empresa não quer perder o funcionário, então tem uma série de benefícios, incentivos e altos salários.”

Eric afirma que não tem vontade de voltar ao Brasil. Ele considera que a qualidade de vida no país é melhor que a da terra natal e motivos como segurança o mantém no exterior.

Braun instrui os interessados em morar no Canadá a focar o idioma: o inglês é importante, mas francês pode abrir boas oportunidades também. Ele afirma, também, que é importante entender as diferenças de cultura de trabalho entre os países. No Canadá, currículos com informações comuns para o Brasil, como foto, estado civil e idade podem pegar mal.

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