Cidade teve um crescimento de 137% de imigrantes saídos do Brasil.
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Cada dia mais brasileiros iniciam uma história de recomeço em Portugal . Boa parte deles têm se estabelcido em Braga , onde a população brasileira passou de 2.596 para 6.168, em dez anos, um crescimento de 137,6% .
Os novos habitantes buscam um custo de vida mais barato que Porto e Lisboa, mas com a vantagem de morar em uma cidade com bons serviços públicos, estímulo ao empreendedorismo e segurança. A prefeitura tem um sistema de incentivos fiscais capaz de permitir até a isenção total em função do volume de investimento e quantidade de emprego gerado.
O aumento do fluxo é visível nas ruas bracarenses desde 2015. O salto dos 3.119 daquele ano para quase o dobro foi intenso.
— Dizemos, de brincadeira, que o “brasileiro” é a língua oficial de Braga. Até o clima está mais tropical — disse o prefeito Ricardo Rio, que recebe regularmente em seu gabinete os recém-chegados em busca de informação para investir ou abrir negócio.
Edison conseguiu uma vaga para estacionar o carro quase em frente ao Sushi Brazil, administrado por um casal de brasileiros. Ao descer, apontou para a fachada de vidro da sua loja, vizinha ao restaurante, e contou como chegou a Braga.
— Viemos em janeiro, estudamos tudo, e nos mudamos definitivamente em março deste ano. Temos um número mágico, que é € 1,2 mil mensais (R$ 5.163). É quanto nós três precisamos para viver com qualidade. Metade do valor é para o aluguel de um dois quartos bem localizado — explicou Edison, lembrando que o plano é fazer a loja ser autossufuciente em breve.
— Porto e Lisboa são caras, principalmente aluguéis de apartamentos como o nosso, que nas duas custam €900. Braga é uma cidade mais barata, jovem, e com excelente qualidade de vida — acrescentou Alessandra.
Dalva Ramaldes administra o grupo Vida Nova em Braga: “Criei para combater a solidão e integrar brasileiros” Foto: Gian Amato
Reflexo da imigração constante, a busca por imóveis pôs o mercado imobiliário em uma fase de transição de preços. Aluguéis mais caros já são praticados. Outro sintoma do movimento: não havia vagas na última semana para agendar concessão e renovação de autorizações de residência no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
— Em novembro de 2016, um três quartos era €350 ou €400. Hoje, é impossível. Por um quarto já pedem € 400, € 500 ou € 600, dependendo da localização. O movimento migratório acabou produzindo a elevação dos aluguéis — disse a jornalista Dalva Ramaldes, administradora do grupo Vida Nova em Braga no Facebook.
Carioca do Jardim Botânico, Bruno Madeira resolveu deixar o Rio devido à violência. Sua mulher já havia sido assaltada 24 vezes. Com uma filha de 12 anos, não queria correr riscos. Trabalhava com turismo no Brasil e precisou recomeçar do zero. Sem o glamour de liderar um empreendimento ou a sorte de trabalhar em sua área, parou na colheita de mirtilos e amoras com a esposa.
— Teve um dia que colhemos ao sol de 42º, tomando picadas de abelha, desviando de cocô de javali e, ainda, na pausa para o lanche, sentamos na companhia de um lindo camundongo. Atualmente, trabalho no turno da madrugada em uma fábrica. Há um preço a ser pago. Não dá para ter tudo na vida — escreveu Madeira no Facebook.
A tendência de crescimento da população brasileira em Braga é inversa ao de Lisboa. O SEF contabilizou em sua página de estatísticas que a capital perdeu quase 10% dos residentes brasileiros regularizados nos últimos dez anos e tem hoje 43.066. No mesmo período, o Porto também teve aumento, mas menor que Braga (57.4%) e tem 12.994. O prefeito estima extraoficialmente que o fluxo de brasileiros em Braga foi de 10 mil nos últimos três anos.
— São pessoas com recursos econômicos e espírito empreendedor, que buscam o desenvolvimento de um projeto de vida. Quem nos procura é encaminhado para a InvestBraga, uma agência pública de consultoria gratuita para a concretização do negócio — explicou Rio.
Incentivos
A Associação Comercial de Braga registrou a inscrição de 11 novos negócios de brasileiros nos últimos 18 meses, o que representa quase dois novos empreendimentos por mês. A prefeitura tem um sistema de incentivos fiscais capaz de permitir até a isenção total em função do volume de investimento e quantidade de emprego gerado. Desde 2014, aproximadamente duas mil vagas foram criadas.
Dono do maior aporte econômico visível de brasileiros em Braga, o Grupo Orient Cinemas, de Salvador, abriu em 2017 a rede Cineplace, com 12 salas no Centro Comercial Nova Arcada. Naquele ano, foi o segundo maior exibidor de Portugal.
O salão de beleza de Isabella Guedes, no Centro Comercial Rechicho, é o termômetro da população brasileira em Braga, que tem 3.729 mulheres contra 2.439 homens. Em apenas dois anos, a paulista começou o negócio em casa, passou para um local menor, avançou para um estabelecimento de porte médio e pensa em ampliação diante de um aumento de 82% no faturamento em relação a janeiro.
— Teve um “boom” há uns meses, e 95% das clientes são brasileiras. Elas já ligam do Brasil para marcar, antes mesmo de chegarem. Eu ganho mais que um médico. São dez clientes por dia, além da manicure. Aqui já está ficando pequeno. O Bruno (Matos, seu marido) teve que largar o emprego e vir ajudar, porque eu estava dispensando clientes — disse Isabella, que vendeu o salão em Embu-Guaçu, em São Paulo, para emigrar com o marido e os dois filhos.
Na região Norte de Portugal, Braga está a 49 minutos de carro da cidade espanhola Tui e a 43 minutos do Porto. A cidade é uma das mais procuradas para estudo, devido à Universidade do Minho , a quarta na preferência dos brasileiros. Cerca de 40% da população de 126 mil habitantes estão na faixa abaixo dos 30 anos. Este ano, Braga foi eleita o segundo melhor destino da Europa, atrás de Budapeste. E viu o Santuário do Bom Jesus ser reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco.
Segunda maior casa de espetáculos de Portugal, o Fórum Braga tem capacidade para 12 mil e recebe regularmente artistas brasileiros. Estão programados para os próximos meses shows de Fafá de Belém, Luan Santana, Henrique & Juliano e Ana Vilela. A abertura, em 2018, coube ao músico e vencedor do Oscar de ator coadjuvante Jared Leto e a sua banda, a californiana Thirty Seconds to Mars.
— Mas o Mc Kevinho levou mais público e lotou a casa — comparou o prefeito.
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