Faculdades portuguesas exigem nota mais baixa no Enem do que brasileiras

Por Isabela Palhares.

Para ser aprovado em Engenharia na Universidade do Porto, por exemplo, candidato precisa ter feito pelo menos 600 dos mil pontos no Exame Nacional do Ensino Médio; já para ingressar na UFRJ são exigidos 770 pontos. Custo pode ser obstáculo.

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Oliveira pensa em estudar em Coimbra, como Camões e Gregório de Matos. ‘Não acho que seria difícil entrar, mas seria um problema me manter’ . (Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO)

Sem conseguir ser aprovada em Engenharia nas Universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp), Ana Marcela Costa, de 18 anos, já pensava em fazer cursinho pré-vestibular para mais uma tentativa. Por sugestão da irmã mais velha, aproveitou a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma vaga em Portugal e, para sua surpresa, foi aprovada em uma das mais renomadas instituições do país, a Universidade do Porto.

Com universidades tradicionais e reconhecidas mundialmente e custo de vida atrativo, Portugal tem atraído cada vez mais jovens para a graduação. A seleção com uso da nota do Enem e a exigência de pontuação mais baixa do que muitas universidades brasileiras têm facilitado essa migração. Para alunos e educadores, o cenário é reflexo da falta de informações sobre o processo e o custo, já que, mesmo públicas, as instituições portuguesas cobram taxa de anuidade.

“Fiz o Enem, mas não tinha cogitado vir para Portugal quando estava no ensino médio. Fui aprovada na UFRJ (federal do Rio de Janeiro), mas meu pai achou (a cidade) perigosa. Foi uma surpresa boa a aprovação aqui”, conta Ana Marcela, que está no 2.º ano de Engenharia Eletrotécnica.

Para entrar na Universidade do Porto, a estudante paulista precisava de uma nota mínima de 120 pontos na escala portuguesa, o que corresponde a 600 no Enem. Para a UFRJ, por exemplo, a nota de corte para o curso de Engenharia Eletrônica foi de 770 no ano passado. Além da prova, as instituições portuguesas também avaliam o histórico escolar dos candidatos.

O Enem passou a ser utilizado como seleção pelas instituições portuguesas em 2014 e 1,2 mil brasileiros já foram aprovados para estudar no país europeu. Neste ano, são 35 universidades que adotam o exame.

“Muitos jovens querem estudar fora do Brasil pela qualidade dos cursos e a experiência de uma nova cultura, uma troca com outras nacionalidades. Mas, para muitos, ainda parece uma realidade distante”, diz Edmilson Motta, coordenador do Colégio Etapa. Para ele, a baixa procura faz com que a pontuação necessária para a aprovação não seja tão alta. “Um aluno que consegue 600 pontos no Enem está competitivo para as vagas de lá. Aqui, nem tanto.”

Em Direito, por exemplo, um dos cursos mais concorridos no Brasil, a nota de corte mínima do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) no ano passado foi de 676 pontos, na Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Para estudar nas universidades de Lisboa, Porto ou de Algarve, a nota exigida é 600. “A medida em que os alunos enxergarem Portugal como uma possibilidade, a tendência é que essa nota mínima deixe de ser um pré-requisito e seja necessário um desempenho maior para a aprovação”, diz Carlson Toledo, diretor do Colégio Porto Seguro.

Quais são os custos?

Apesar da facilidade, o custo de estudar em Portugal pode ser um entrave. É o caso de Rafael Oliveira, de 21 anos. Ele vai tentar uma vaga em Letras na Universidade de Coimbra, mas não sabe se terá condições de pagar a anuidade de € 7 mil (R$ 29 mil), mesmo com a ajuda dos pais. “Seria um sonho estar na mesma instituição em que estudaram Camões e Gregório de Matos, autores que admiro muito. Não acho que seria difícil entrar, mas seria um problema me manter no curso.”

Por isso, Oliveira diz ter concentrado seus estudos para ser aprovado na USP. Para entrar em Letras, usando a nota do Enem, ele precisa de cerca de 760 pontos. Em Coimbra, de 600. Além da nota mais baixa, a maioria das instituições portuguesas também dá um peso muito maior para as provas das áreas relacionadas aos cursos. Em Letras, por exemplo, as notas de Redação e da Prova de Linguagens correspondem a 80% da nota final do estudante.

“Em Portugal, há uma valorização muito maior da habilidade do estudante na área em que ele quer estudar, o que normalmente facilita o ingresso”, diz Motta. Dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, órgão do governo português, mostram que a maioria dos brasileiros ocupa as vagas de Administração e Direito, Engenharia e Humanidades. Para Medicina, as regras são mais difíceis e o Enem não é aceito por nenhuma instituição portuguesa, já que para entrar no curso é preciso ter morado no País por pelo menos dois anos.

Fique atento

– Pontuação

A nota mínima necessária varia de acordo com o curso e instituição, mas a maioria exige 120 pontos na escala portuguesa (que varia de 0 a 200) e equivale a 600 pontos no Enem. Além disso, a maioria das universidades atribui pesos diferentes às provas do exame, valorizando o desempenho nas áreas relacionadas às que o aluno quer estudar.

– Nomenclaturas

Em Portugal, o termo licenciatura se refere aos bacharelados. Mestrados integrados são cursos com cinco anos de duração, como Engenharias e Arquitetura.

– Anuidade

Apesar de serem públicas, as universidades portuguesas cobram “anuidade” de € 1,5 mil a € 7 mil (R$ 6,3 mil a R$ 29 mil).

– Custo de vida

Assim como no Brasil, cidades maiores e mais fortes turisticamente têm custo de vida maior em Portugal. Lisboa é onde moradia e alimentação são mais caras. A estimativa é de que essas despesas fiquem entre € 300 e € 500 (R$ 1,2 mil e R$ 2,1 mil), dependendo da cidade escolhida.

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