Estudo estima que houveram pelo menos 1158 mortes por infecções por bactérias resistentes a antibióticos, em Portugal, em 2015. Na Europa, bebés e idosos são as principais vítimas destas infecções. Grande parte tem ligação a unidades de saúde.
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Todos os anos, na Europa, 33 mil pessoas morrem por infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos. Quase 24 mil estão associadas aos serviços de saúde. Os danos provocados por estas infecções na população europeia são mesmo comparáveis aos da gripe, tuberculose e HIV/sida combinados e têm se agravado desde 2007, revela o mais recente estudo do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla inglesa). Portugal destaca-se pela negativa. Aparece em quarto lugar na lista que mede o impacto destas infecções no que diz respeito à mortalidade e incapacidades provocadas nos doentes.
No que diz respeito a Portugal, o estudo estima que tenham havido 24.021 infecções e 1158 mortes, no ano de 2015.
Há alguns anos que se tem a consciência de que essas infecções por bactérias resistentes a antibióticos são uma das principais ameaças (senão a principal) dos sistemas de saúde modernos. Mas têm sido escassos e pouco abrangentes os estudos sobre a incidência, mortes e complicações associadas. Um estudo, cujo artigo científico foi publicado nesta terça-feira na revista The Lancet Infectious Diseases, tenta sanar essa falha, calculando o número de casos, mortes e anos de vida saudável perdidos (quer por incapacidade, quer por morte prematura) de usuários dos serviços públicos de saúde dos países que integram o Espaço Económico Europeu (28 Estados-membros da União Europeia mais a Islândia, Liechtenstein e Noruega). Assim, calcula-se o peso destas infecções, ou seja, os danos que elas provocam.
Com base nos dados de 2015 da Rede Europeia de Vigilância da Resistência Antimicrobiana (EARS-Net), foi estimado o peso de cinco tipos de infecção – da corrente sanguínea, do trato urinário, do trato respiratório, do sítio cirúrgico e outras infecções, com um intervalo de confiança de 95%. Concluiu-se que há, por ano, cerca de 672 mil infecções. Estas resultam em cerca de 33.110 mortes e 875 mil anos de vida saudáveis perdidos (aquilo que a gíria científica denomina de anos de vida ajustados por incapacidade).
Isto significa que, na Europa, por cada 100 mil habitantes há, aproximadamente, 131 infecções. Estas causam cerca de seis mortes e a perda de 170 anos de vida saudável.
Os resultados do estudo sugerem ainda que a maioria destas infecções por bactérias resistentes a antibióticos se manifestou em hospitais e outros estabelecimentos de saúde. Foi o caso de 63,5% das infecções totais e 72,4% daquelas que resultaram em morte. Isto pode ser minimizado, diz o estudo, com “medidas adequadas de prevenção e controle de infecções” e a administração “prudente” de antibióticos.
Resistência a antibióticos de fim de linha
A mortalidade e incapacidade são mais significativas nos bebés com menos de um ano e pessoas com mais de 65 anos. E esta realidade tem-se agravado desde 2007. Itália e Grécia lideram com os piores cenários. Logo a seguir está a Roménia e Portugal. Aliás, o peso destas infecções é mais evidente no sul e leste da Europa.
Em Itália e especialmente na Grécia é particularmente preocupante o impacto das infecções por bactérias resistentes a carbapenemos – antibióticos de fim de linha usados exclusivamente nos hospitais para tratar infecções graves – e à colistina – antibiótico antigo e mais tóxico, usado quando já nada mais funciona.
Em Portugal estes dois tipos de infecção por agentes multirresistentes também têm um impacto “substancial”, classifica o estudo, mas há outra bactéria a provocar danos no país e que os autores destacam: a MRSA (Staphylococcus aureus, resistente a meticilina). Embora a sua incidência tenha vindo a diminuir em Portugal, de acordo com a Direcção-Geral da Saúde, continua bastante acima da média.
Quando se fala na perda de anos de vida saudáveis, também têm grande impacto em Portugal as infecções associadas à Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, resistentes a vários antibióticos de largo espectro, como quinolonas e cefalosporinas de terceira geração, e carbapenemos.
Estas duas bactérias têm feito soar os alarmes e este estudo volta a assinalá-lo: as mortes associadas às infecções por Klebsiella resistente a carbapenemos aumentaram seis vezes na Europa entre 2007 e 2015. O número de óbitos por E.coli resistente a cefalosporina de terceira geração multiplicou-se por quatro.
Estas resistências a antibióticos de fim de linha tornam ainda mais limitadas as opções e tratamento, algo que tem preocupado as autoridades da Saúde. O estudo mostra, aliás, que 39% do peso causado por estas infecções está relacionado com bactérias resistentes a estes antibióticos de último recurso.
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