Jornalista polemiza sobre brasileiro e pede portugueses “puros” na seleção

Por Marcus Alves.

Desde Pauleta, ex-PSG, Bordeaux e outros, Portugal anda à caça de um centroavante “matador” para liderar o seu ataque. A aposta mais recente é o brasileiro naturalizado Dyego Sousa, do Braga, que fez a sua estreia pelo país entrando do banco de reservas no empate por 0 a 0 contra a Ucrânia, na última sexta-feira, e depois assumiu um lugar ao lado de Cristiano Ronaldo no 1 a 1 com a Sérvia, na segunda, ambos dentro de casa, pelas Eliminatórias da Eurocopa.

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Dyego Sousa com Cristiano Ronaldo no jogo entre Portugal e Ucrânia pelas eliminatórias da Euro
(Imagem: Erwin Spek/Soccrates/Getty Images)

Para os atuais campeões europeus, não foi a arrancada que se esperava na defesa do título continental.

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Com o seu desempenho sendo exaustivamente discutido, outro assunto tem dividido a atenção e provocado controvérsia: as manifestações contra Dyego, que nasceu em São Luís, do Maranhão, mas atua no futebol português desde os 18 anos, construiu família no país e possui cidadania desde 2017.

Uma das mais polêmicas partiu do comentarista da emissora SIC Notícias, Rui Santos, que se mostrou contrário à convocação do goleador do Braga e, ao analisar a situação, pediu à federação local para priorizar a formação de “jogadores bacteriologicamente puros” em Portugal.

Foi o suficiente para fazer a expressão viralizar nas redes sociais e gerar acusações de xenofobia a Santos.

“Deve haver mais cuidado. A federação deve assumir a sua posição de formadora de alguma maneira, com cuidados relativamente ao jogador português, bacteriologicamente puro, formado nos clubes. Portanto, acho muito duvidoso que [Dyego Sousa] seja mais um jogador que vá ficar na história em Portugal. Eu penso que não vai”, afirmou o comentarista na SIC.

Com passagem por Palmeiras, Moto Club e outros clubes, o atacante de 29 anos é o sétimo brasileiro a defender Portugal depois de Deco, Pepe, Liédson, Ronny Lopes, Celso e Lúcio Soares.

De uma maneira ou de outra, cada um deles enfrentou dificuldades no início de suas caminhadas para serem plenamente aceitos.

A mesma resistência, no entanto, não existe com o ala esquerdo Raphael Guerreiro, destaque do Borussia Dortmund, que nasceu na França, nunca morou em Portugal e nem sequer consegue se comunicar no idioma local. Ele é filho de pai português e mãe francesa.

“Representação biológica de ‘raça’ ou ascendência”

Depois da fala de Rui Santos, a organização SOS Racismo resolveu denunciar o comentarista e emitiu comunicado.

“As declarações de Rui Santos revelam um discurso de conteúdo inequivocamente racista e xenófobo”, afirmou, em nota de repúdio. “Mais grave ainda, o uso da expressão ‘bacteriologicamente puro’ evoca uma representação biológica da ‘raça’ ou ascendência que, além de cientificamente ultrapassada, é um veículo explícito de ofensa e preconceito”, completou.

Perguntado a respeito durante programa, o comentarista Rui Santos tentou esclarecer o uso da expressão e negou qualquer cunho negativo, dizendo ser vítima de uma abordagem “maliciosa” de sua análise.

“Se se pegar apenas nessa expressão do bacteriologicamente puro, dá para tudo. Dá pano para mangas. É preciso compreender quem foram as pessoas que quiseram empolar e pôr isso na praça pública. Isso foi uma forma de me descredibilizar”, respondeu Santos.

“Eu esperava um bocadinho mais de uma organização como a SOS Racismo. Até de responsabilidade. Ver essas coisas descontextualizadas nas redes sociais, já não ligo. Agora, de uma organização da qual queremos encontrar alguma credibilidade, em função de uma causa, que é nobre?”, prosseguiu.

“Não vou deixar colar a essa expressão um entendimento ou uma interpretação que querem dar”, acrescentou, sendo indagado posteriormente se os atletas de origem africana eram, por outro lado, “bacteriologicamente puros”.

“O enquadramento dos jogadores de Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde é diferente do enquadramento dos jogadores do Brasil”, concluiu.

Em artigo de opinião, o jornal Expresso perguntou se Dyego Sousa seria “uma espécie bacteriologicamente pura português” se tivesse nascido Diogo Sousa. “O Éder (herói do título europeu de 2016) nasceu em Bissau, por isso, deixem-se de coisas. Em Portugal, cabe o Dyego, o Pepe, o Éder, o André, o Bruno e o Bernardo. Se a seleção é de todos, não excluam ninguém”, finalizou o texto.

O camisa 23 tem 19 gols em 34 partidas pelo Braga na temporada.

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