Como Portugal mudou nos 45 anos desde a Revolução dos Cravos


Por EFE.

O dia 25 de abril de 1974 não só levou a democracia e a liberdade a Portugal; também abriu a porta para avanços sociais na saúde, na educação, na liberdade das mulheres e até a uma mudança de valores que transformaram o país no que é hoje, muito diferente do que há 45 anos.

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A Revolução dos Cravos completa 45 anos no dia 25 de abril.

“Talvez o maior êxito do ponto de vista social tenha sido a construção progressiva de um Estado social e de um Sistema Nacional de Saúde (SNS) para todos”, afirmou em entrevista o analista político António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Em um país que antes dependia de instituições privadas ou da beneficência para socorrer seus doentes, o SNS foi um dos primeiros projetos empreendidos após a revolução.

O sistema foi lançado em 1979 com um acesso quase gratuito – apenas com o pagamento das chamadas “taxas moderadoras”, ainda em vigor – e, quase meio século depois, o número de médicos e outros profissionais sanitários se quadruplicou.
Para outros, como a escritora Lídia Jorge, autora de “Os Memoráveis”, um dos romances mais célebres sobre a revolução, a grande conquista social de 25 de abril foi a educação.

“Um avô que era analfabeto pôde ter um filho que se formou e o seu filho, doutor em Harvard. Foi vertiginoso. Do analfabetismo mais obscuro passou à possibilidade de alcançar níveis culturais, educativos e científicos juntamente com os outros países da Europa”, comentou a escritora.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1970, cerca de 26% da população portuguesa não sabia ler nem escrever, enquanto em 2011, último dado disponível, essa porcentagem quase não superava 5%, em um país onde agora a escolarização é obrigatória até os 18 anos.

Também cresceu a porcentagem de portugueses com estudos superiores – de 0,9% em 1970 a 14,8% em 2011 -, embora a saída precoce do sistema escolar continue sendo um problema, segundo ressaltou Costa Pinto.

“Os trabalhadores portugueses ainda têm níveis educativos que, embora muitos melhores, são relativamente baixos em comparação com o número médio da União Europeia”, lamentou.

Portugal celebra a revolução dos Cravos todos os anos. (Foto-Pedro Ribeiro Simões)

Os progressos na educação foram especialmente significativos para as mulheres, com uma presença cada vez maior nas universidades: representavam apenas 12,6% dos doutorados atribuídos em 1974 e, atualmente, já superam 50%.

A revolução foi uma libertação total para as mulheres. “Tinham um papel reduzido, insignificante, eram sempre as mais analfabetas, não tinham direitos. O nosso Código Civil fazia com que não pudessem viajar sem autorização do marido”, lembrou Lídia Jorge.

Com a democracia também explodiu sua participação no mercado de trabalho, embora ainda reste caminho a percorrer até a igualdade plena. A lacuna salarial de gênero é de 14,9%, segundo o Ministério de Trabalho, e as mulheres ainda assumem 73% das tarefas domésticas.

A violência sexual também continua sendo um problema em um país onde no ano passado ocorreram 28 assassinatos com estas características – na Espanha, com quatro vezes mais população, foram 47 -, o que a tornou um assunto de Estado, tanto que o governo decretou pela primeira vez este ano um dia de luto pelas vítimas.

Por outro lado, a conscientização sobre o assunto cresceu, como demonstram as mobilizações deste último ano, e os especialistas apontam que a mentalidade dos portugueses mudou, com uma escala de valores diferentes da que tinham na década de 1970.

“Quase todos os estudos de opinião indicam uma grande mudança de valores na sociedade portuguesa. É mais tolerante em relação à imigração e em relação a outras comunidades étnicas ou culturais”, ressaltou Costa Pinto, frisando que os portugueses são hoje “menos obedientes a valores católicos tradicionalistas”.

Direitos sociais como o divórcio foram recuperados muito rápido, já em 1975, enquanto no século XXI foram alcançados outros como o aborto – despenalizado em 2007 por referendo -, o casamento entre pessoas do mesmo sexo (2010) e a adoção para casais homossexuais (2016).

Um dos protagonistas da Revolução dos Cravos, o capitão Vasco Lourenço, considera que ainda é necessária uma “justiça social maior”.

“Aproximamos as classes sociais, as diferenças sociais diminuíram, mas volta a haver desigualdades fortes e eu gostaria de um país com menos desigualdade”, declarou Lourenço.

Nesse sentido, o analista político Costa Pinto alerta que, apesar dos avanços, a economia portuguesa continua sendo “bastante frágil” e, por isso, “dificilmente permitirá um grande aumento dos direitos sociais” no futuro próximo.

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